Herança Judaica em Portugal
Uma viagem de descoberta das cidades, vilas e aldeias, que evocam a presença judaica em Portugal.
As comunidades judaicas em Portugal, ao longo dos séculos, contribuíram para o desenvolvimento da cultura portuguesa, da fundação da nacionalidade, e mais tarde, com contributos financeiros e científicos, durante a época dos Descobrimentos.
Embora se conheçam referências anteriores, foi entre os séculos V e XV, que a comunidade judaica sefardita, ou judeus da Península Ibérica, se estabeleceu no território que é hoje Portugal.
No período da Segunda Guerra Mundial, Portugal acolheu centenas de judeus que procuram refúgio, escapando à perseguição Nazi e à segurança que faltava na Europa.
Com existência legal desde 1912, a comunidade judaica tem atualmente sinagogas em Lisboa, Porto, Trancoso e Belmonte.
Esta é uma viagem à descoberta dos vestígios da presença judaica em Portugal.
Porto
Por ser um importante porto marítimo e uma cidade mercantilista, o Porto foi um dos locais de maior presença judaica. Descubra o Porto judaico e percorra as ruas onde nasceu e se desenvolveu uma comunidade, que se supõe ter surgido mesmo antes da fundação de Portugal.
A judiaria da cidade existiu bem no coração da cidade, na zona da Sé. À medida que a cidade se foi desenvolvendo, a comunidade judaica foi também crescendo e foi-se espalhando em direção ao rio. Percorra a pé as ruas da cidade, até ao Palácio da Bolsa e o Mercado Ferreira Borges, neste local existiu uma outra judiaria, que tinha como centro uma sinagoga, no local onde hoje se encontra a rua do Comércio do Porto.
Continuando a percorrer o centro histórico do Porto, até à Cadeia da Relação, vai encontrar o local onde existiu a judiaria Nova ou do Olival. Visite o Mosteiro de São Bento da Vitória, construído em terrenos da antiga judiaria.
Neste local, faça uma pausa no miradouro do largo da Bateria da Vitória, para uma vista impressionante da cidade e do rio.
Por último, na zona da Boavista, onde a vida judaica da cidade passou a centrar-se nos séculos XVII e XVIII, poderá visitar a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim (“Fonte da Vida”). Este templo judaico, construído entre 1929 e 1937, é a maior sinagoga da Península Ibérica e atual sede da Comunidade Israelita do Porto.
Douro e Trás-os-Montes
Para descobrir a herança judaica na região do Douro, deverá começar por visitar lamego.
Apesar da forte influência católica nesta cidade, no século XV existiam aqui mais 400 judeus, na área entre o castelo e a igreja de Santa Maria de Almacave. A cidade teve duas judiarias: a judiaria velha, perto da Porta do Sol e judiaria nova, na atual Rua Nova. Nesta rua observe um característico portal ogival, atualmente com inscrição cristã, que sugere que terá sido este o local onde se localizava a sinagoga.
Para lá da cidade de Lamego, na região do Douro e Trás-os-Montes, os mais representativos centros judaicos eram, Torre de Moncorvo, Vila Flor, Freixo de Espada à Cinta, Vila Real e São João da Pesqueira.
Continuando até Vila Nova de Foz Côa, poderá percorrer a judiaria, junto ao castelo e visitar a Capela de Santa Quitéria, que substituiu a antiga sinagoga.
Belmonte
Próxima da Serra da Estrela, Belmonte é talvez a terra portuguesa onde a presença dos judeus é mais forte, destacando-se pela permanência da cultura e tradição hebraicas, desde início do século XVI até aos dias de hoje.
No século XVI, com expulsão dos mouros da Península Ibérica, e a reconquista dos territórios de Portugal e Espanha, os reis católicos de Espanha e o rei Manuel, obrigaram os judeus a converterem-se ao catolicismo, tornando-se cristãos-novos. Muitos saíram do país, mas muitos outros ficaram e mantiveram a sua fé de forma secreta, dando origem aos marranos ou cripto-judeus.
Durante 500 anos, os marranos de Belmonte mantiveram-se numa comunidade fechada. O isolamento levou a que esta comunidade perdesse o uso comum do hebraico e muitos dos seus ritos religiosos, mas permitiu que a base religiosa do Judaísmo fosse mantida.
Apenas em 1989, os sefarditas de Belmonte regressaram de forma efetiva ao Judaísmo, fundando a Comunidade Judaica de Belmonte.
Por ser no interior, do país rodeada de montanhas, ainda isolada, conseguimos sentir a atmosfera medieval dos tempos em que a comunidade era forçada a praticar os seus rituais em segredo.
Tomar
Antiga sede da Ordem dos Templários, Tomar é uma cidade encantadora que vale a pena visitar. O castelo e o monumental Convento de Cristo foram classificados como Património da Humanidade pela Unesco.
A comunidade Judaica de Tomar remonta a 1315. Raro exemplar dos tempos judaicos medievais e da arte pré-renascentista Portuguesa, a Sinagoga de Tomar é a única dessa época. A arquitetura é simples e com influências orientais e está carregada de simbolismo: as mísulas representam as Doze Tribos de Israel; as colunas assinalam as Quatro Matriarcas de Israel. Serviu como templo de oração para a comunidade e como escola, serviu também como escola, assembleia e tribunal da comunidade judaica.
Foi encerrada em 1496, com a expulsão dos Judeus, após o que foi convertida em prisão, no século XIX serviu como armazém de mercadorias. Foi classificada como Monumento Nacional em 1921. Em 1923 Samuel Schwartz, um judeu polaco, engenheiro de minas, adquiriu a sinagoga recuperando-a do estado de abandono em que se encontrava. Doou-a ao Estado Português em 1939, para aí ser instalado o Museu Luso-Hebraico de Abrão Zacuto.
O patrono do museu, Abrão Bem Samuel Zacuto (1450-1515), foi um astrónomo, matemático, médico e rabi, natural de Salamanca. A sua origem judaica obrigou-o a refugiar-se em Portugal. Foi autor das Tábuas Astronómicas, precioso instrumento para o empreendimento das Descobertas.
Lisboa
A herança judaica é parte da identidade de Lisboa. Um passeio pela capital portuguesa pode fazer-nos viajar pela idade média, atravessar o tempo de Inquisição e visitar as zonas na Baixa, onde os refugiados da Segunda Guerra encontravam o refúgio.
Lisboa tinha quatro bairros judeus, e podemos encontrar vestígios da sua presença visitando Alfama e continuando até à Praça do Comércio. Toda esta zona foi destruída no terramoto de 1755.
Continuando pela Praça do Rossio, um dos lugares mais cosmopolitas de Lisboa, podemos encontrar o Memorial às Vítimas do Massacre Judaico de 1506. Inaugurado em 2008, é um tributo da cidade às vítimas da intolerância e do fanatismo religioso resultantes deste massacre. No fim de tarde de 19 de abril de 1506, dominicanos instigaram a população a matar mais de 2000 judeus, atribuindo-lhes a culpa das pestes e da febre que assolavam a cidade.
A bonita Praça do Comércio, um lugar perfeito para relaxar e contemplar a luz única do rio Tejo, foi também o local onde centenas de judeus foram obrigados à conversão ao cristianismo, pelo ritual do batismo.
O Judaísmo em Portugal começou a mudar no início do século XIV, com a instalação em Lisboa de Judeus Sefarditas oriundos de Marrocos e de Gibraltar. A legalização da Comunidade Israelita de Lisboa ocorreu em 1912 e a sinagoga Shaaré-Tivka foi inaugurada em 1912. A primeira sinagoga a ser construída desde o século XV.
Castelo de Vide
Esta bonita vila alentejana, com o seu castelo imponente de onde podemos observar todo o encanto da paisagem, com planícies a perder de vista.
A Judiaria de Castelo de Vide é uma das mais antigas e bem preservadas em Portugal. A localização fronteiriça desta vila foi fundamental para a instalação aqui de judeus expulsos de Castelo em 1492.
A melhor maneira de conhecer esta vila e a Judiaria é fazer um passeio a pé, observando os detalhes. Nas casas térreas duas portas comunicam com o exterior: uma dá para a loja onde se desenvolvia a atividade comercial, a outra para o acesso à habitação. No cruzamento da Rua da Judiaria e Rua da Fonte, fica a antiga sinagoga, local de reunião da comunidade e também escola judaica.
Estes são apenas os lugares mais emblemáticos a visitar, para descobrir a presença judaica em Portugal, mas existem muitos mais. Contacte a nossa equipa para saber mais sobre a herança judaica em Portugal.